Era Uma Vez Um Sonho: Um Lugar De Pertencimento

“O homem deve se reinventar todos os dias.” – Jean Paul Sartre

Segundo Freud, construímos nossas próprias histórias, muitas vezes nos aprisionamos a elas através de repetições, mas também as utilizamos para nos alicerçar psiquicamente e elaborá-las, criando a possibilidade de novos desfechos.

Por falar desse construir psíquico, podemos recorrer às narrativas históricas, ao conteúdo dos sonhos, no qual identificamos importantes repetições e lacunas, no trabalho com pacientes.

Um convite é feito ao analista para descobrir outras histórias que permeiam nuances da narrativa: do que o paciente fala, de onde ele fala e a quem fala.

A narração de uma história é precedida de uma pré-história, mesmo antes de seu nascimento, das expectativas dos adultos de seus receios, desejos, sonhos e de suas histórias.

No caso da análise a história é resgatada, simbolizada e construída lentamente, como parte de uma narrativa maior, para que possa se reconhecer nela e não se prender a ela. A construção e reconstrução das histórias narradas propiciam resultados inexplicáveis e, talvez um dos principais desafios do terapeuta seja retomar o fio condutor ajudando o paciente a conferir sentidos em suas narrativas.

A seguir, ouvir no lugar do paciente terapeuta – um movimento em direção a uma narrativa partilhada através de um sonho, que parte do não saber para a possibilidade de um saber.

Podemos nos lembrar dos contos árabes “As mil e uma noites” por Scherazade, um método que conduziu o sultão do princípio de prazer, para o princípio da realidade.

A Narrativa do Sonho

T: “Um menino veio me acordar porque uma criança havia caído no rio. Pulei para salvar” (de fato, caiu, batendo o rosto no tapete e ficou todo roxo). Como interpretam?

G: Uma paciente fala – o menino é o Sr., as outras ficam olhando admiradas, sem saber.

T: Do que temos falado sempre?

G: Silencia

T: Mostra que vocês têm memória muito ruim. Frequentam aqui – em cada sessão, vocês não escutam com atenção. O âmago do problema. Então, pergunta a mim.

R: Eu respondo – sobre a parada de crescimento.

T: Sim. Esse sonho mostra para salvar a regressão do grupo. Pulei para salvá-los. Exatamente como levei ao congresso – falta de révèrie da mãe – os neurônios não ficam fortes com a ausência de amor. Preocupação com você e se dirige a uma do grupo, pelas suas ausências.

H: Fiquei doente de cama, não conseguia andar. Travei. Comenta que talvez esteja preocupada com a cirurgia e meu marido não apoia. Ele acha que estou fingindo para não transar. Ele não me apóia, sofro sozinha. Ele fica bravo, com bico quando não transa.

Lembrei-me da infância, quando sangrava – prova que algo não estava bem.

T: O que você acha, pergunta a outra paciente do grupo.

W. Olha e não responde.

T: Pergunto ao grupo sobre o sonho.

G: Criança era o senhor. O rio da vida – Criança salvar era você mesmo.

T: Estou preocupado com o grupo as crianças que caíram no rio – voltam à infância. Reviver o grupo.
Fala para a paciente

H: Hormônio mexe com o organismo.

W: É de fundo psicossomático a endometriose?

T: É. Cansada da relação todo dia não é para defender?

H: Na internet diz que a causa é desconhecida.

T: Antigamente casava-se cedo e não tinha tempo de ter endometriose. O endométrio comanda o organismo.

H: Estou me sentindo mal… Incomodada de transar todo dia, mas, não tomo atitude. Forçada a transar, pois ele fica mal-humorado. Então…
T: Vamos dissecar essa situação – somatizou – não tem coragem de tomar atitude. Você justifica a parada de crescimento.

G: Ele sabe… e fica com raiva de mim.

W: Ele não conversa com os outros e vê que não é normal transar todo dia?

G: Ele obcecado por sexo. Se não tiver…

T: Isso tem de ser resolvido aqui. Você vive seu pai ‘severo’ que a abandonou. Você está com raiva, ira de mim. Você não vem, falta às sessões – reversão de perspectiva. Você não vindo é para me destruir. Inconscientemente é raiva de mim.

H: O senhor – alma boa. Meu pai – demônio.

T: Quando você sai antes – inconscientemente está dizendo que o pai é mal – foge de mim – você me abandonou, eu te abandono também.

H: Preciso sair Não Dr. Nilson (ato falho).

T: Você não escutou o que o analista disse: toda mulher tem. É normal.

H: Eu quero arrancar – a fase de 11 anos, não quero mais reviver isso.

T: Esse é o sonho preocupado com as crianças do grupo. Não analisamos a dor que paralisou – vontade de dar um chute no marido – tem dor para não agredir – ódio do marido superposto – imagem do pai. Precisa brecar para não chutar não admite agressividade. Trava!

K: Pergunta ao terapeuta: e quando não tem coragem de enfrentar o marido e não aconteceu nada na infância com pai, mãe, não consigo entender.

T: Regride à infância aos 3 ou 4 anos e não exteriorizava aos pais.

K: Tinha ciúmes de uma irmã – ela era delicada, dançava, e eu era um trem… eu acabava com sapato em uma semana, era agitada – meu apelido era trator.

T: Agressividade fora do comum exteriorizava tinha vontade de chutar – você brecava e revive com seu marido. Vivencia o que regredia na infância.
Você passa agressividade para o marido como ela (H). Ele também irrita, cai na jogada.

K: Meu marido também quer controlar tudo, como minha mãe queria me controlar. Pior que estou caindo e me machuco. Acho que também estou com medo de chutar meu marido. Que faço?

T: Mãe controlava – ela proibia – vivencia aqui o meu sonho.

J: Narra o fato de um ex-genro estar doente e a preocupação com a neta que vai cuidar dele. É uma menina muito boa e que a preocupa. […]

T: O que você quer dizer com isso?

J: Quero desabafar até esqueci da viagem não consigo dormir, choro. É triste ficar vegetando. Não quero vegetar, não quero dar trabalho ao outro.

T: Pergunto ao grupo: o que ela está querendo dizer para nós? Comecei com o sonho que tive… preocupação com o grupo, para que ele cresça. E, ela – identificação projetiva na neta.

J: Tenho que salvar. Ela é linda e completamente generosa como o pai. Estou preocupada.

T: Você reviveu a infância com o seu pai.

M: Você via seu pai como um pai vegetal e uma mãe castradora.

J: Eu, quieta e ela, (a neta) quieta.

T: Vê falta de apoio do pai. Não – identificação projetiva com a neta, não reminiscência e sim revivência. Sentir o conflito com visão de adulta. Sua infância faltou comunicação. Por que é útil?

J: Capacidade de perdoar.

T: O que está pondo para fora? (Pergunta a H que atendeu o celular)

H: Não tenho sossego…

T: Não tem que atender o celular. Você não tem o direito de estar aqui. Deus é grande e vai proteger suas crianças.

H: Sinto culpa.

J: Conflito familiar é difícil. Eu quero ajudar, mas fico com raiva que sobra tudo para mim. Minhas irmãs não ajudam.

T: Seus pais queriam um filho homem?

J. Chamo assim porque trocaram o “O” por “A”.

T: Qual a vantagem de ver como homem?

W: Ser o homem da família.

T: Você como terceira e como ‘homem’ – há influência de hormônio masculino fetal. Não se irrite você é forte, potente, aproveite é bom. Encerramos aqui a sessão.

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